Flexível mundo novo
Trabalho remoto, contratação por projetos e carreiras multifacetadas sinalizam dinamização do ambiente profissional, exigindo novas configurações de lideranças e estruturas organizacionais
Trabalho remoto, contratação por projetos e carreiras multifacetadas sinalizam dinamização do ambiente profissional, exigindo novas configurações de lideranças e estruturas organizacionais
Karina Balan Julio
13 de janeiro de 2020
Estudar, encontrar um emprego estável em uma empresa e nela permanecer durante a maior parte da carreira, de preferência até a aposentadoria, foi, durante muito tempo, o projeto de vida de muita gente. Nesse modelo, a rotina era clara — com horários rígidos para entrar e sair, benefícios padronizados e um ritmo relativamente linear de progressão de carreira. Essa narrativa talvez ainda responda às expectativas de alguns indivíduos, mas está cada vez mais distante da realidade. A transformação digital trouxe mudanças que extrapolam o espectro tecnológico, alterando a cultura de trabalho e as expectativas das pessoas em relação a ele. Em pouco tempo, ficou fácil fazer reuniões por videoconferência ou trabalhar a partir de qualquer lugar, tendo o e-mail e interfaces de trabalho em dispositivos pessoais.
A economia do compartilhamento, representada por aplicativos como Uber e Airbnb, difundiu de vez os serviços sob demanda e atividades com pouco (ou nenhum) vínculo empregatício. Em meio ao desemprego e mudanças recentes na legislação trabalhista, profissionais tentam navegar pela crise e a incerteza de diferentes formas. Os desempregados recorrem ao empreendedorismo e aos “bicos” para garantir sua renda. Aqueles em empregos fixos, por outro lado, buscam maior adaptabilidade em suas rotinas. Querem horários flexíveis para passar mais tempo com a família, fugir dos horários de pico nas grandes cidades e investir em outras atividades — um job secundário como freelancer, um hobby ou um empreendimento pessoal, por exemplo.
Não por acaso, empresas com ambientes flexíveis são cobiçadas por pessoas de diferentes setores e idades. Companhias nativas digitais e startups, particularmente, conquistaram uma aura de flexibilidade que se tornou referência para outras empresas. Atentas às pressões econômicas e demandas dos colaboradores, corporações miram novos modelos de contratação, ampliando sua rede de freelancers, terceirizados e adaptando seus modelos de gestão.
A flexibilização das relações de trabalho é tema do segundo capítulo do projeto Futuro do Trabalho, de Meio & Mensagem, publicado nas quatro edições semanais de janeiro. O especial inclui uma pesquisa proprietária idealizada pela publicitária Cintia Gonçalves e pelo consultor Diego Selistre. O estudo, realizado de outubro a dezembro de 2019, mesclou metodologias qualitativas e quantitativas, com o objetivo de entender o que pensam profissionais iniciantes e seniores sobre o ambiente e formatos de trabalho, assim como suas expectativas para o amanhã. Na parte qualitativa, foram realizados cinco grupos de discussão em outubro de 2019, em São Paulo: dois com jovens da geração Z (entre 18 e 25 anos), que têm até cinco anos de atuação em diferentes indústrias; dois com profissionais da geração X (entre 40 e 60 anos), que acabaram de passar por uma transição de carreira; e um com profissionais da geração X com carreiras estáveis e, no mínimo, dez anos de atuação no mercado em que trabalham atualmente. Na etapa quantitativa, realizada pelo Instituto Qualibest, 428 pessoas responderam online, de 3 a 13 de dezembro, sendo 201 participantes com idades de 18 a 25 anos e 227 com idades de 40 a 60 anos — nos dois casos, de ambos os sexos, pertencentes às classes A, B e C, de nível superior (completo ou não), moradores do estado de São Paulo e trabalhadores de companhias privadas, profissionais liberais, autônomos ou sócios de empresas.
Sejam mais jovens ou mais velhos, a grande maioria espera um futuro com mais adaptabilidade e autonomia. Considerando a amostra total da pesquisa quantitativa, 80% acreditam que as pessoas poderão trabalhar para uma empresa de qualquer lugar do mundo, e outros 72% dizem que o empreendedorismo será o principal conceito que guiará as empresas em 2040.
Por trás dessas expectativas, está a consciência de que as carreiras serão cada vez menos lineares. “Quando olhamos para o futuro, entendemos que o trabalho não será único. Estamos falando de relações que vão mudar muito”, diz Cintia Gonçalves. Mudar de área várias vezes durante a carreira, mesmo que sejam distintas do seu campo de formação, também será algo frequente. “É possível que todos nós tenhamos inserções em vários mercados. Posso ter um e-commerce de sapatos hoje e, eventualmente, gerir um negócio de orgânicos”, brinca a psicóloga Marina Segnini, especializada em orientação profissional.
Outro estudo, da multinacional britânica de educação Pearson, realizado em 2019 com mil brasileiros, descobriu que para 64% dos participantes está ultrapassada da ideia de trabalhar para um único empregador durante toda a carreira.
Do freela ao empreendedor
No passado, o trabalho temporário ou freelancer era restrito a carreiras específicas, principalmente carreiras criativas e dinâmicas por natureza, como fotógrafos, diretores de cena e publicitários. Nas próximas décadas, porém, esse tipo de relação deve se tornar comum inclusive em carreiras tradicionais. Os profissionais, por sua vez, já esperam trabalhar pontualmente em projetos, em funções que talvez nem existem ainda. “Do mesmo jeito que surgiu Uber, 99 e iFood, vão surgir outras possibilidades e formas de trabalho”, opina a farmacêutica Daniele Bezerra, 24 anos, uma das entrevistadas da pesquisa Futuro do Trabalho.
Diante de novas carreiras e especialidades emergentes, empresas estão reconhecendo o valor de trabalhadores externos, que podem colaborar em projetos pontuais. Cristiane Berlink, diretora de recursos humanos da IBM Brasil, acredita que a efervescência de freelancers é resultado de uma mudança de cultura nas empresas, que estão mais dispostas a atuar em rede com fornecedores, clientes e parceiros. “Vejo cada vez mais as pessoas se conectarem por projetos, e não necessariamente por empregos. E as empresas, que antes eram muito fechadas nelas mesmas, estão mais abertas a abraçar esse ecossistema e aceitar talentos de fora para se chegar ao melhor projeto”, avalia.
O relatório Future Jobs 2018, do Fórum Econômico Mundial, consultou representantes das cem maiores empresas empregadoras em 20 países, incluindo o Brasil, onde pelo menos 62% dos participantes se disseram dispostos a contratar freelancers habilitados a lidar com novas tecnologias. Até mesmo na área de comunicação, onde esse tipo de contratação é comum, há um processo de valorização dos “freelas”. “Temos visto o crescimento dos freelancers de altíssima qualidade. Eles costumavam ser aqueles que estavam nos melhores postos das empresas, e o que acontece agora é que querem sair de grandes estruturas e se aventurar em jornadas solo ou com outros profissionais”, avalia Lucas Mello, fundador e CEO da Live. Há dois anos, a agência criou a plataforma Live Community, uma rede de freelancers parceiros com experiências em diferentes indústrias. “É uma plataforma de profissionais selecionados um a um, os quais conseguimos acionar de acordo com os projetos para os clientes”, explica Lucas.
A consultoria de recursos humanos Robert Half projeta uma tendência de maior terceirização de talentos. O contrato fixo de tempo integral dá cada vez mais espaço para modelos de outsourcing, serviços temporários e consultorias. Um estudo da empresa realizado no Brasil mostra que 4 em cada 10 profissionais de RH esperam que ao menos 20% das equipes de suas empresas sejam compostas por talentos temporários ou terceirizados até 2022. “Quando se pensa em trabalho temporário, costuma-se pensar no operacional, como varejo ou indústria, mas agora veremos outras funções em projetos temporários. Isso é interessante, pois a empresa poderá trabalhar com diversas populações ao mesmo tempo, desde pessoas mais novas até com quem já saiu do mercado”, projeta Lucas Nogueira, diretor associado da Robert Half.
Uma preocupação dos trabalhadores, principalmente os mais jovens, é a de que o trabalho apresentado como “flexível” gere ainda mais instabilidade para suas carreiras e maior precarização das profissões, com jornadas extenuantes e menos garantias. “Com a ascensão do trabalho precário, as funções com proteção social vão ser para uma minoria, e o jovem sabe disso”, avalia a psicóloga Marina Segnini.
Este, aliás, é um dos debates por trás da revisão das leis trabalhistas nos últimos anos. A Lei da Terceirização, por exemplo, aprovada em 2017, permite a terceirização de atividades-fim de uma empresa. Uma agência, além de terceirizar serviços como limpeza e segurança, passou a poder terceirizar atividades que estão em seu core business, por exemplo. A reforma trabalhista, do mesmo ano, abriu espaço para formatos de trabalho flexíveis, com a expectativa de gerar mais empregos. Pouco mais de dois anos após sua aprovação, a alta de empregos não foi tão expressiva, mas o trabalho intermitente, no qual o funcionário é chamado para trabalhar apenas algumas vezes por semana, cresceu. No último ano, essa modalidade aumentou 70%, de acordo com o Ministério da Economia. Além disso, a reforma da previdência impulsiona profissionais a recalcularem seu planejamento de carreira.
Sabendo que não haverá estabilidade no trabalho a longo prazo, por razões econômicas ou tecnológicas, brasileiros vislumbram no empreendedorismo um caminho plausível, inclusive pensando na velhice. A pesquisa da Pearson mostrou que 26 % dos brasileiros esperam abrir um negócio próprio quando estiverem próximos a se aposentar.
Juliano Costa, vice-presidente de educação da multinacional, acredita que o empreendedorismo costuma ser uma escolha frequente para populações de mercados emergentes, como o Brasil. “Se há muito desemprego, por exemplo, as pessoas buscam empreender para criar suas chances, e a vantagem disso é criar um ambiente espetacular para a inovação”, analisa.
Escritório em qualquer lugar
O futuro do trabalho também será permeado pelas atividades remotas: o home office, os coworkings e profissionais conhecidos como nômades digitais – aqueles que dividem seu tempo entre o trabalho remoto, reuniões e visitas a clientes. Trabalhar remotamente pode ter a ver com passar o expediente com roupas mais confortáveis, mais tempo com os filhos ou evitar o trânsito. Mais do que isso, porém, esse modelo busca conciliar os interesses do profissional com os da empresa, gerando maior desempenho e menos desperdício de tempo e recursos – e por isso apontado como uma tendência.
Um levantamento divulgado em dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que, em 2018, 3,8 milhões de brasileiros trabalhavam exclusivamente de casa, uma alta de 44% desde 2012. Contudo, esse formato está longe de ser amplamente aceito. Outra pesquisa da Microsoft, feita pelo Ibope Conecta junto a 1,5 mil brasileiros, mostrou que 53% deles não fazem home office em nenhuma ocasião. Ainda, segundo 83% dos respondentes, a empresa ou escritório são os locais onde passam a maior parte do tempo trabalhando. Já a sala de reunião é onde ocorre a maior parte das interações entre o time. Outros 47% já realizam reuniões à distância, em maior ou menor frequência.
Lucas Nogueira, da Robert Half, acredita que o home office é parte de culturas corporativas mais recentes, que visam dar mais autonomia aos colaboradores. “As pessoas estão em busca de autogestão, algo que começou com mudanças na formatação dos escritórios das empresas, com o compartilhamento de espaços e o fim das salas fechadas”, exemplifica.
Na pesquisa de Meio & Mensagem, entrevistados disseram acreditar no trabalho remoto como forma de equilibrar a vida pessoal e profissional. Entre os profissionais da geração X que mudaram de carreira, participantes dos grupos de discussão viram na transição a possibilidade de ter rotinas mais maleáveis. Um deles é Italo Lopes, 43 anos, que atuou na área financeira a maior parte de sua vida até migrar para a área de tecnologia. Cansado da vida rígida de escritório, decidiu estudar para chegar a uma posição que lhe desse mais flexibilidade. Hoje, trabalha como consultor executivo. “Minha maior motivação foi ter horários livres e não ficar preso em um lugar só”, afirma. Outro participante dos grupos é Anderson Abreu, 44 anos, que deixou o trabalho de administrador para se tornar analista de sistemas em um banco. Atualmente trabalha de casa dois dias da semana. “Tenho a oportunidade de ficar mais próximo à minha família”, diz.
No mercado de comunicação, agências começam a encarar o trabalho remoto como uma opção escalável, e não mais como políticas isoladas. Desde fevereiro do ano passado, os colaboradores da agência Live contam com horário 100% flexível, podendo, na maior parte do tempo, decidir de onde querem trabalhar. Para implementar a mudança, a empresa transferiu todos os seus materiais para ferramentas em nuvem, de forma a permitir que funcionários trabalhem virtualmente de forma colaborativa. “Achamos que não faz sentido as pessoas estarem presentes fisicamente todos os dias, simultaneamente, para poder trabalhar, ainda mais em uma cidade como São Paulo, onde passam muito tempo em deslocamentos”, avalia o CEO Lucas Mello. Antes de oficializar a diretriz, a Live também fez pesquisas junto a outras empresas e contratou uma consultoria jurídica para entender os trâmites burocráticos necessários.
Funções compartilhadas
Representante dos grandes conglomerados globais, a Unilever também incorporou formatos maleáveis, que vão do trabalho remoto ao job sharing, ou seja, o compartilhamento de posições. Lucyane Rezende, diretora de recursos humanos da companhia, explica que essas práticas fazem parte da estratégia de bem-estar e qualidade de vida. “Experimentar esses modelos tem a ver com reter e atrair talentos no mundo de hoje”, opina.
O compartilhamento de funções, por sua vez, partiu de uma demanda de duas líderes, Carolina Mazziero e Liana Feracotta, que eram business partners da empresa e no ano passado foram promovidas a diretoras de recursos humanos, dividindo o mesmo cargo. Com carga horária reduzida, elas passaram a revezar horários em diferentes dias da semana e a se encontrar em momentos específicos para reuniões. “Essa experimentação veio de um pedido das próprias profissionais. A Carolina estava voltando da licença maternidade e pediu uma mudança em seu modelo. Pensamos: por que não?”, conta Lucyane.
Segundo ela, esses modelos respondem ao objetivo de dar mais independência aos colaboradores – ajudando a retê-los por mais tempo. “Não é mais a empresa que direciona a carreira das pessoas. O profissional é quem busca acomodar seus desejos individuais às necessidades da empresa.” Combinar o home office com um escritório mais descontraído foi a aposta da fabricante de alimentos Kraft Heinz. No ano passado, a empresa instituiu o trabalho remoto uma vez por semana, e, às sextas-feiras, encerra o expediente duas horas mais cedo. “Enxergávamos essa demanda, principalmente vinda de jovens em busca de mais equilíbrio de vida”, explica Irina Preta, head de gente e performance da Kraft. A empresa ainda reformulou seu escritório, de forma a oferecer áreas colaborativas e ambientes mais informais.
De acordo com a pesquisa da Microsoft, 90% dos profissionais acreditam que um ambiente de trabalho moderno, com horários flexíveis e permissão para trabalhar em casa, influenciaria sua decisão diante de uma proposta de emprego. Já a pesquisa Hábitos do Trabalho, da Alelo em parceria com o Instituto Ipsos, realizada em 2019 com 1,5 mil pessoas, mapeou o sentimento dos brasileiros em relação ao trabalho flexível. Cerca de 49% disseram ter o sonho de fazer home office, e outros 10% gostariam de trabalhar em um coworking. Ainda, 53% acreditam que esse tipo de ambiente incentiva a produtividade.
Socialização em risco
Apesar das vantagens, formatos flexíveis podem prejudicar a socialização de equipes. A consultoria global A.T Kearney ressalta o risco de uma epidemia de solidão no futuro, resultante da falta de integração presencial no trabalho. Para driblar o problema, sugere que empresas criem ocasiões de interação significativa entre seus colaboradores. A advogada Camila Cardoso, 23 anos, participante do grupo de discussão da geração Z da pesquisa Futuro do Trabalho, de Meio & Mensagem, afirma já sentir os sinais da falta de socialização com o trabalho remoto. “Acho que o local físico vai importar cada vez menos, porque as atividades vão ser muito tecnológicas. Isso é muito bom por um lado, mas por outro acho que falta um pouco de relação social. Quando trabalho de casa, passo o dia inteiro sozinha, o que é meio solitário porque não converso com ninguém”, admite.
Comandar uma equipe remota também pode ser especialmente desafiador para os líderes, pondera Cintia Gonçalves. “As habilidades para comandar uma equipe no ambiente remoto são totalmente diferentes das exigidas para um ambiente físico de uma organização. A comunicação online pode gerar muito mais interpretações e ruídos”, avalia.
De olho nos problemas que podem surgir com o trabalho remoto, a Live criou uma estratégia para promover maior integração do time: a agência contratou o arquiteto Guto Requena para dar ao escritório uma cara de café, com ambientes informais e espaços modulares. “Nosso escritório é como se fosse um hub social da empresa, onde as pessoas vão em momentos que exigem presença, seja encontros sociais, reuniões ou até aulas de yoga. Se formos nos encontrar, que sejam encontros de qualidade”, opina o CEO Lucas Mello.
Outro desafio é criar um mindset produtivo, afinal, apesar de o trabalho remoto trazer confortos, exige o mesmo comprometimento com as entregas. Segundo Lucas, a migração para o regime flexível se mostrou curiosamente mais difícil entre os mais jovens. “Muitos deles moram com os pais ou dividem apartamento, e por isso não têm espaço adequado para trabalhar de casa. Ou, às vezes, sentem que precisam de maior supervisão no dia a dia”, explica.
A longo prazo, o desafio para muitas empresas será desenvolver parâmetros e diretrizes para formatos flexíveis. Na opinião de Juliano Costa, da Pearson, é possível que a legislação trabalhista tenha que ser revista novamente nas próximas décadas. “Se você trabalha da sua casa, por exemplo, posso te mandar mensagens de noite? Se imprime materiais em casa e acessa a internet, quem pagará por isso? Algumas questões podem não parecer pertinentes hoje, em uma escala individual, mas, em uma escala maior, podem acabar demandando alguma legislação”, pondera.
A flexibilização não ficará restrita às jornadas de trabalho e regimes de contratação, mas se estenderá à forma como empresas são estruturadas. Os profissionais ouvidos pela pesquisa Futuro do Trabalho acreditam que companhias devem incorporar a diversidade na prática, além do discurso, e também valorizar outras experiências, e não só o currículo. Relações mais fluidas implicam em novos formatos de liderança, que deixam de ser pautados apenas por títulos e tempo de trabalho. “O líder deixa de ser pautado apenas pelo papel hierárquico, pelo cargo e crachá que possui, e passa a ser pautado pelo conhecimento que tem em determinado assunto. Podemos ter alguém com um cargo mais alto, mas com experiência menor do que um jovem”, exemplifica Cintia Gonçalves.
Departamentos, por sua vez, tendem a ser totalmente multidisciplinares, em vez de reunirem pessoas com formações muito similares. No mercado criativo, isso já é uma realidade, na opinião de Levi Girardi, CEO da consultoria de design Questtonó. A empresa, além de contar com uma ampla rede de freelancers, abandonou o formato de trabalho em departamentos rígidos. “As disciplinas se retroalimentam. No momento em que tenho um designer de produto, um pesquisador e um antropólogo em um mesmo grupo de trabalho, com visões diferentes, os resultados são muito melhores”, afirma.
Outra característica marcante da nova era do trabalho, na opinião de Lucas Nogueira, da Robert Half, será a diminuição das relações hierárquicas nas empresas. “Antes tinha-se um estagiário, o primeiro analista, o segundo analista, o supervisor, diretor e presidente, e essa estrutura não existe mais de forma tão hierarquizada”, pondera.
Flexibilidade na tela
Meio & Mensagem estreou na semana passada, em suas plataformas digitais, o primeiro episódio da série de vídeos Futuro do Trabalho, gravada durante a realização da pesquisa homônima. As entrevistas que compõem os vídeos foram feitas com profissionais participantes dos grupos de discussão do estudo, com os condutores da pesquisa, Cintia Gonçalves e Diego Selistre, além de especialistas em educação, recursos humanos e líderes de empresas. Nesta semana, estreia o segundo episódio da série, que discute as vantagens e desvantagens de modelos de trabalho flexíveis e o papel que terão no futuro. A série em vídeo terá quatro episódios e foi realizada por Meio & Mensagem e pela produtora Play It Again Som&Imagem.