Meio&Mensagem

É chegada a era do líder conector

Nelio Bilate, coach de desenvolvimento humano na NB Heart, fala sobre os desafios das transformações empresariais e o impacto no ambiente corporativo

Depois de passar por grandes empresas como Garoto, Coca-Cola e Nissan, em cargos de diretoria de marketing, Nelio Bilate resolveu operar uma reviravolta em sua carreira. Tornou-se coach de desenvolvimento humano na NB Heart, fundada por ele em 2009 e que utiliza a metodologia de Richard Barrett. O profissional faz diagnósticos da cultura das empresas, passando pela gestão de liderança e estabelecendo planos de ação para a empresa e para o funcionário, líder ou não. Já prestou consultoria a empresas como Santander, Johnson & Johnson e Pão de Açúcar.

Meio & Mensagem — A geração Z acredita que, além de receber feedback, tem de ter a liberdade de dar feedback para o chefe. Como vê isso se concretizando nas empresas?

Nelio Bilate — Haverá hierarquia sob o aspecto de conhecimento. Isso muda completamente o modelo mental. Quando o líder dá somente ordens, o jovem vai embora, porque a adesão a uma marca e a uma empresa não vem mais do salário e do potencial de carreira, mas da certeza de que estou sendo ouvido, de que meu chefe é próximo de mim. Esta era é do líder conector, que gosta de conexão. Não há como o líder se afastar das redes, por exemplo, porque o mundo desses caras da geração Z é digital. É ali que ele conversa e tem ambiente de troca. É preciso estar aberto para o outro, que pensa diferente, que é contrário ao que penso. A gente não foi acostumado a lidar com o contrário e é isso que alimenta inovação e pro gresso. Tem de ter estrutura emocional para lidar com isso.

M&M — Esses jovens são nativos digitais, mas valorizam muito o aspecto humano. O que explica esse comportamento?

Nelio — Ele deseja companhias humanas porque nasceu para se relacionar. Os jovens, sobretudo os da geração Z, gostam das relações. Tanto que têm tribos, grupos. Eles não ficam mais sozinhos. Eles estão sozinhos, mas estão conectados, falando com alguém. Tem sempre uma voz, um rosto, alguém do outro lado. Eles querem essa valorização humana até porque essa geração foi ensinada que deveria ter conexão forte com a sociedade, com a natureza, que deveria se preocupar com a população de rua. A gente disse isso para eles. Eles foram fazer intercâmbio e dissemos: “Você tem de se integrar, encontrar novas pessoas, encarar uma nova realidade, dormir com cinco amigos no mesmo lugar”. Os caras voltam com esse mindset e a gente não aceita? Mas pedimos a eles que fizessem isso. É um caminho sem volta.

M&M — Como os líderes de hoje devem se preparar para receber a geração que está chegando?

Nelio — Falei com um executivo de empresa grande recentemente e ele perguntou: “Como vamos fazer com que esses jovens se engajem na empresa?” Respondi que é o contrário. Tem de perguntar o que faz eles se engajarem por uma causa, uma empresa e um propósito. Consegui atender a expectativa dele? O que ele entende como filosofia de vida e como carreira? Hoje, o engajamento não é somente da empresa para o colaborador, mas do funcionário para a empresa também, tem de estar combinando. Engajamento para mim é dos dois lados. O jovem precisa ter noção daquilo que ele quer e procura. A gente tem de permitir que esse jovem erre. Ele não sabe o que é aquilo ainda. O jovem gosta de experimentar. Nós, baby boomers, tínhamos de escolher uma coisa e seguir a mesma coisa até a morte. Ele pode desistir e refazer tudo, se assim quiser.

 

 

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